“Cartas já não adiantam mais, quero ouvir a sua voz.
Vou telefonar dizendo que eu estou quase morrendo
de saudades de você”
Eu te amo, te amo, te amo – Roberto Carlos

Quando terminei de escrever a crônica do ano passado, minha crise de ansiedade estava no auge. Cada palavra foi colocada na tela do computador com a certeza de que estava vivendo de forma desregrada e precisava fazer algo para mudar. Motivado a fazer acontecer, tive ideias legais e fiz planos. Comecei até mesmo a traçar algumas estratégias para colocá-los em prática. Quando estava assistindo a uma palestra no RD Summit, em outubro, tive certeza absoluta do caminho que precisava ser seguido. Mas aí, no dia seguinte a essa fagulha, a vida virou de ponta cabeça.

A boa notícia é que não fui parar de novo no hospital com um caso de ansiedade crônica. Tirando umas semanas em que meu olho ficou tremendo sem parar, até que deu para controlar bem o problema ao longo da temporada dos meus 33 anos. A má notícia é que isso só foi possível porque estou anestesiado com tudo que envolve a minha vida.

É algo que não consigo esconder. Estou triste. É um fato. Desde o diagnóstico do tumor no cérebro da minha mãe, tenho estado triste. Quando ela morreu, há quase seis meses, fiquei pior. Desde então, sonho com ela praticamente todos os dias. Às vezes são sonhos bonitos, às vezes tristes. Geralmente são coisas cotidianas, momentos em que ela esteve presente ou que eu queria que ela estivesse presente. E, quando não quero sonhar, faço de tudo para cansar meu corpo e meu cérebro ao ponto de simplesmente desmaiar, de só querer deitar na cama e apagar. Sinto que ela está sempre comigo e, se depender de mim, vai continuar para sempre.

O problema é que, desde que ela se foi, sinto que tudo que faço está no automático. É algo que faz parte do processo de luto pela pessoa que mais amei na minha vida. Sei disso. É um processo, tem seus altos e baixos. Também sei disso. Tem dias que tudo parece bem, tem outros que desabo. Vai ser assim por um bom tempo ainda. Porque a morte é a pior definição da palavra definitivo, mas não tem como fugir dela. Por isso, tenho tentado seguir em frente do jeito que dá. Era isso que ela ia querer. Ela, que sempre fez de tudo para garantir que eu tivesse o melhor futuro possível. Ela, que fez muitos sacrifícios para que eu fosse feliz. Ela, que comemorava cada uma das minhas vitórias, por menores que fossem. É nisso que tenho me agarrado nesses meses. Em tentar fazer o melhor que posso, nas condições que estou, para deixar a memória dela feliz.

Por isso tenho me mantido ativo, tentando fazer coisas que costumava fazer antes de o mundo desmoronar. Mas também tenho consciência de que não sou mais o mesmo de quando escrevi a última crônica de aniversário. Fora a doença e a morte da minha mãe, outras coisas pesadas racharam algumas relações familiares de um jeito doloroso. Reações e decisões equivocadas, impropérios ditos (e gritados) na minha cara ou pelas minhas costas que não tenho como ignorar, como fiz minha vida toda. Fora outras coisas que fui percebendo sobre mim mesmo, que me deixaram mais recluso. Tenho tentado voltar a um estado normal, mas está sendo bem difícil. Mas sei que, com um esforço do meu lado, alguma hora vai. Porque assim precisa ser, a vida continua.

Mas continuar não quer dizer que ela vai ser a mesma de antes. Por enquanto ainda está tudo bem estranho e não consegui reajustar meus planos à nova rotina. Voltei para a casa em que nasci e cresci, em uma decisão que não dá para dizer se foi racional ou emocional, mas foi a mais acertada diante de toda a situação. Tenho buscado ficar ainda mais próximo dos meus sobrinhos porque eles são as pessoas que mais amo nesse mundo. Eles fazem eu me sentir menos sozinho e sou muito grato por isso. Minha irmã também tem sido uma grande parceira, em nosso luto silencioso para honrar a memória da nossa mãe e manter a família junta e feliz.

Por outro lado, minhas outras relações estão um pouco estremecidas com essas mudanças internas e externas. Tenho andado sumido, ausente – e não só dos rolês. Até quando estou fisicamente presente, acabo ficando aéreo em alguns momentos. Sinto que não tô normal e que vai demorar um bom tempo para acertar o prumo de novo. Tenho algumas decisões para tomar que podem ser duras, mas nesse momento é o mais certo. Mas aos poucos, no meu tempo, como recomendou minha psicóloga. Ainda bem que meus amigos não desistiram de mim e continuam me cercando com carinho e amor, isso tem sido importante demais, mesmo comigo não estando tão presente assim.

No fim, ainda tem muitas incertezas pela frente. Minha cabeça está confusa. A vida está confusa. Está tudo confuso. Pela primeira vez nesse mais de dez anos escrevendo crônicas de aniversário, não sou capaz de traçar um prognóstico para o próximo ano. Não sei o que vai ser daqui para frente e, por enquanto, estou confortável com isso. Vamos ver como a vida vai caminhar na temporada dos 34 anos, mas vou tentar fazer esse trajeto ser o mais suave que eu puder.