Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo

Roberto Carlos – Emoções

Todos os anos, tenho um compromisso pessoal de escrever e postar a tradicional retrospectiva deste blog durante a segunda metade de dezembro, que é quando as coisas meio que já se assentaram na minha cabeça e tudo está se encaminhando para o fim. É um momento importante, em que paro para fazer um balanço do que passou e do que vem pela frente. Dou uma revisitada nos livros, filmes, músicas e séries que acompanhei durante o ano. Olho para dentro de mim e reflito sobre o que estou pensando. Em 2022, porém, não consegui fazer isso. No dia 28 de outubro, meu mundo desmoronou. Desde então, tem sido apenas ladeira abaixo.

Comecei a escrever esta crônica de exorcismo no dia 17 de janeiro de 2023 porque preciso. Podia muito bem deixar passar. Largar um buraco na cronologia do blog, como houve em 2016 (por outros motivos), mas minha cabeça está doendo e rodando. Estou à beira de um ataque de ansiedade, sozinho em casa, aguardando meu sobrinho acordar, e preciso colocar as coisas para fora. É um pequeno desabafo, um grito no meio do caos.

Antes de entrar nisso, queria apenas pontuar que eu já tinha as linhas gerais do texto deste ano todas desenhadas na minha cabeça. Ano passado falei de como sentia que algo estava fora do prumo e realmente estava. Eu estava cansado. Muito cansado, física e mentalmente. A pandemia destruiu com meu emocional e 2022 não veio suave o suficiente para amenizar as dores que estava sentindo. Tendo a concentrar todos os meus esforços no trabalho e me puxei demais nesse sentido. Até 28 de outubro, as coisas não estavam sendo fáceis e não tive uma pausa para poder respirar. Aí, na primeira oportunidade que tive para isso, precisei largar tudo que estava em curso para cuidar de um problema muito mais importante para mim.

Eu estava em Florianópolis, em um evento de marketing digital, quando recebi a notícia de que minha mãe tinha passado mal e estava sendo levada às pressas para o hospital. Era o fatídico 28 de outubro. No mesmo dia, o diagnóstico de um tumor no cérebro. Não pensei duas vezes. Peguei o primeiro avião que consegui e, desde então, fiquei ao lado dela a todo momento. Sabíamos que o caso era grave, mas só uma cirurgia daria a real dimensão do problema. Ela foi feita no final de novembro, veio um pingo de esperança de que tudo ficaria bem, mas até isso nos foi tirado pouco mais de uma semana depois. Desde então, todas as minhas forças estavam voltadas para garantir que ela ficaria bem até os últimos momentos e para cuidar dos meus sobrinhos do jeito que ela fazia e gostaria que eles fossem cuidados quando não estivesse mais aqui.

No sábado, 14 de janeiro, não teve mais jeito. Ela nos deixou. Foi do jeito que ela queria, longe do hospital e cercada por todo mundo que amava. Olhada de perto por Nossa Senhora Aparecida, santa da qual ela era devota. Eu estava acostumado a dormir do lado dela e acordar de hora em hora para ver se ela estava respirando direitinho. Quando ela deu o último suspiro, ainda fiquei olhando para ver se o peito subiria de novo. Como sempre fazia. Mas não subiu mais. Minha mãe, a pessoa que eu mais amo na minha vida, tinha ido embora.

Foram quase três meses convivendo com o diagnóstico, em que tentei dar todo o carinho que ela merecia, em que tentei me manter forte para fazer com que ela ficasse bem. Agora não preciso mais ser forte. Posso ser fraco e chorar o tanto que quiser. Porque está doendo. Muito. E vai continuar doendo pro resto da minha vida. Escrever é só um processo pequeno para poder aliviar um pouco essa angústia que estou sentindo. Tirar um pouquinho dessa dor no meio peito. Aproveitar o amor que minha família e meus amigos têm me dado. Olhando para frente, é até difícil fazer qualquer perspectiva para 2023. A vida será outra. Não tenho mais meu porto seguro, que estava sempre aqui para mim. Não tenho uma perspectiva em mente. Agora é dar os próximos passos no completo escuro.

Como este é um texto mais emocional e escrito no impulso, não vou revisar. Provavelmente vai ter erros, mas peço que relevem. É um exorcismo, não uma aula de gramática.