Eu me lembro bem de quando aluguei Toy Story pela primeira vez. Meados dos anos 1990, o filme tinha acabado de chegar à locadora com muito alarde e eu, um jovem no alto dos seus sete anos, presenciava algo nunca antes visto na história do cinema. Acostumado com desenhos 2D, aquele era um mundo novo. Na mesma hora fiquei fascinado pela história do cowboy ciumento e do astronauta que não sabia que era um brinquedo. Mal sabia que minha paixão pela Pixar só cresceria desde então.

Fazer um ranking dos filmes do estúdio é cometer injustiças, não tem jeito. Desde 1995, há pouquíssimos longas ruins, alguns medianos, outros excepcionais e algumas obras-primas. Mesmo nos anos 2010, cheios de sequências que ninguém queria, a Pixar entregou obras que estão entre minhas preferidas (você verá quais são aqui na lista). Ou seja, é impossível definir qual é o melhor filme da mesma forma que é impossível escolher o filho ou o sobrinho preferido. Mas me coloquei o desafio, então vou cumpri-lo.

Para isso, reassisti a todos os longas da Pixar, na ordem em que foram lançados. Fiz essa maratona um pouco antes do lançamento de Luca (2021) e pretendo continuar atualizando esta lista sempre que um novo filme estrear. Será um trabalho para a vida, que pretendo manter ativo aqui no blog. Mas é preciso destacar que, como qualquer ranking desse tipo, as escolhas são puramente pessoais. Há algumas obras que mexem mais comigo, outras que me tocam menos. E, como não sou crítico de cinema, as opiniões “técnicas” que emitir são assim mesmo, entre muitas aspas. Mas o que posso dizer é que não há um filme que seja mediano no top 10, são todos excelentes.

Acho que podemos começar a brincadeira, certo?

ALERTA DE SPOILER: Pode ser que alguma informação importante seja comentada na parte “Cena do filme”. Se não tiver assistido e não quiser saber, pule essa seção na hora da leitura.

27. Carros 2 (Cars 2 | 2011)

Mate conversando com a Holley dentro de um avião enquanto Finn McMissile olha ao fundo

Carros foi um filme que fez muito sucesso com as crianças e uma sequência era o caminho natural para manter em alta a venda de brinquedos – mesmo que isso não seja tão forte na Pixar quanto na Disney. Mas, em vez de continuarem a história do Relâmpago McQueen, decidiram promover o Mate a protagonista. Como se uma decisão errada não fosse o suficiente, fizeram um filme clássico de espionagem, com inspirações diretas na franquia 007.

Todos os elementos estão presentes: conspiração internacional, acessórios mirabolantes, cenas de ação desenfreada, vilão caricato, mudança de rumo e até uma versão adaptada de Bondgirl. Teria potencial, mas nada é bem explorado tendo como pano de fundo o universo de Carros. Mesmo com uma trama envolvendo veículos velhos, a mensagem é contraditória, a motivação dos vilões é ruim, a reviravolta final é difícil de engolir, a trama é genérica, os diálogos são piegas, há um deus ex machina canalha e as piadas de mal gosto do Mate invadem todo o filme.

Aliás, esse é o principal motivo de o filme não funcionar. Mate é um coadjuvante engraçadinho no primeiro Carros, mas perde força como protagonista. Não há o que ser desenvolvido ou um arco narrativo a cumprir, como McQueen tem no primeiro e no terceiro longas. A propósito, nenhum personagem tem um arco propriamente dito. Isso sem falar na morte do Doc Hudson, tão importante no primeiro filme (pela morte do dublador, eu sei) e que não tem impacto aqui. Carros 2 é o primeiro e, até o momento, único grande erro da história da Pixar.

Cena do filme: A abertura de Carros 2 seria um excelente curta de espionagem clássico, com ação na medida certa e uma violência pouco vista em outros longas da Pixar, explorando bem o potencial dos personagens serem carros. Nos deixa ligeiramente empolgados com o que está por vir, mas o resto não ajuda a manter o entusiasmo.

26. Lightyear (2022)

Queria ter gostado um pouquinho que fosse de Lightyear, mas não deu. Não chega a ser um desastre, como é Carros 2, mas é tão decepcionante que merece estar na parte mais baixa desta lista. Achei a ideia promissora, pois encontraram uma forma de resgatar um personagem querido de Toy Story e, ao mesmo tempo, contar uma história original naquele universo, mais voltada para a ficção científica e a aventura. Na prática, porém, achei que nada funcionou como deveria.

Em termos técnicos, não tem como falar mal da Pixar. Eles capricham em cada detalhe e isso é refletido em Lightyear do início ao fim. Os cenários são lindos, a iluminação é perfeita e o design de personagens chama atenção. Mas, dessa vez, a história foi o maior problema. Não é algo genérico, como é o próximo filme da lista, mas sim uma reunião de ideias ruins, que culminam em um dos piores finais entre os filmes do estúdio, com um plot twist que me fez revirar os olhos.

A sensação é de que falta alma em Lightyear. A equipe do Buzz é cansativa (exceto o gatinho robô Sox, que é ótimo), a missão vai por um lado hiper confortável e previsível e falta contexto em muitos momentos. Ou seja, apenas um filme mediano para baixo. Se eu fosse o Andy, dificilmente veria no Buzz um herói a ponto de substituir o meu cowboy como brinquedo favorito.

Cena do filme: Toda a sequência que envolve Buzz fazendo os testes de combustível, em que se passam alguns minutos para ele e muitos anos no planeta são ótimas. Ver ele perder aos poucos tudo o que tinha e as pessoas que amava poderia causar um efeito maior no personagem e ser o guia da história, mas infelizmente não é isso que ocorre. E quem reclamou do beijo entre duas pessoas do mesmo sexo tem mais é que se fuder.

25. O bom dinossauro (The Good Dinosaur | 2015)

Arlo, o dinossauto, carrega o humano nas costas enquanto olha para o horizonte, com uma paisagem cheia de árvores, um rio e uma montanha nevada ao fundo.

O bom dinossauro possui alguns dos mais lindos cenários que já vi em uma animação. Quando assisti pela primeira vez, fiquei embasbacado com o quão realistas eram as paisagens. Isso se repetiu quando reassisti, mostrando que o sentimento era genuíno. Mas, tirando isso, o filme não tem muitos outros destaques. Não chega a ser uma ofensa pessoal, como Carros 2, mas é tão sem propósito que foi eclipsado por Divertida Mente, lançado pela Pixar no mesmo ano.

A premissa é até interessante, imaginando o que teria acontecido se o meteoro que dizimou os dinossauros não tivesse atingido a Terra. Nesse cenário, uma família de apatossauros dedica a vida à agricultura. Isso até um pequeno ser humano invadir a fazenda e começar a roubar os milhos. Cabe ao jovem Arlo dizimar a praga, mas esse processo o afasta da família e ele precisa contar com a ajuda do menino (nomeado por ele como Spot) para retornar à casa. Uma história nada original, mas que se feita de modo diferente poderia render bons resultados. Pena que não foi.

O bom dinossauro está longe de ser um filme ruim, mas não atinge os padrões de narrativa da Pixar. Tenta emocionar, mas de forma que vimos muitas vezes. A relação entre os personagens não passa de um filme de cachorro qualquer. Mas a sensação de que estava vendo os acontecimentos de O Rei Leão de forma amenizada e com menos ritmo foi o que mais me incomodou – um reflexo direto das confusões de bastidores. Aliás, Pixar, era preciso ficar de olho porque o filme definitivo com apatossauro já foi criado.

Cena do filme: Há uma cena específica que consegue atingir o grau de emoção buscado. Quando Arlo explica a Spot sobre sua família e que o pai morreu, o menino entende e, sem nenhum diálogo, mostra que também está sozinho. É bonitinho e triste, ao mesmo tempo.

24. Procurando Dory (Finding Dory | 2016)

Dory dentro de um copo cheio de água, sendo segurada por uma das patas do polvo Hank

Das continuações desnecessárias da Pixar, Procurando Dory é a que menos deveria existir. Amo Procurando Nemo de paixão (você verá isso nesta lista), mas tenho consciência de que não havia necessidade de continuar. Ainda mais repetindo a fórmula e promovendo a personagem secundária engraçadinha a protagonista, estratégia que não tinha funcionado em Carros 2. A diferença, porém, é que Dory é bem mais carismática e tem um arco narrativo de fato a ser seguido, ao contrário do Mate.

A busca de Dory pelos pais é divertida e apresenta personagens interessantes no caminho – com destaque para o polvo Hank. A ideia de road movie ainda está presente, mas as situações avançam de forma mais orgânica do que em Procurando Nemo. Isso, porém, não quer dizer que sejam melhores. O absurdo permeia muitas delas, atingindo o auge na sequência em que os personagens guiam uma van. Além disso, precisamos abraçar a ideia de que a Dory tem convenientes flashes de memória para fazer a trama avançar. Caso contrário, saímos frustrados. Isso sem falar que o Marlin e o Nemo estão ali só para justificar ser uma sequência, uma vez que não haveria mudança na trama se eles não estivessem presentes.

No fim, é um filme simpático e que retoma o carisma do original. Só não precisava ter sido feito e não acrescenta em nada ao que tínhamos visto antes.

Cena do filme: Apesar de os flashbacks serem convenientes demais para o avançar da história, são interessantes por mostrar como os tiques de memória da Dory surgiram. Temos um fan service com ela aprendendo a cantar “continue a nadar”, entendemos porque ela dá explicações constantes sobre a perda de memória e vemos como aprendeu a falar baleiês. Sem falar que a Dory bebê é o ápice da fofura.

23. Valente (Brave | 2012)

Close na cara da Mérida, que está concentrada com o arco e flecha apontado

Valente é o famoso potencial desperdiçado. O começo é espetacular, criando uma atmosfera de conflito envolvendo a princesa Mérida e a rainha Elinor. Enquanto a jovem quer ser livre e tomar as próprias decisões, a mãe tenta mostrar a importância dela se tornar uma dama para que o reino progrida. A discordância se intensifica quando os pais promovem um desafio para escolher o futuro marido da garota. Como ela se recusa a se casar, está montada a guerra familiar.

Isso tinha tudo para ser um ótimo filme, mas o problema de Valente é não saber que tipo de história quer ser. Mesmo com a tensão bem estabelecida, a trama dá uma reviravolta bem no meio da projeção e vira uma reprise de Irmão Urso. A protagonista independente e forte é desperdiçada com piadinhas visuais e a mensagem “acredite em você mesmo”, presente em tantos filmes Disney. Esse, aliás, é o filme com mais cara de Disney no universo da Pixar. Isso é tão evidente que a Mérida até mesmo participa do universo das princesas. Some-se isso à tentativa frustrada de construir um vilão temido, questões históricas fracas e coadjuvantes sem charme (estou olhando para vocês, trigêmeos), esse é só mais um filme mediano na filmografia da Pixar.

A técnica, porém, continua impecável. O que eles fazem com o cabelo da Mérida é incrível, mas não é só isso. Na primeira vez que assisti, a cena de um guarda com a barba por fazer me chamou atenção. Os pelos pareciam reais de um modo que nunca tinha visto. Até a penugem nos rostos dos pretendentes da princesa foram executadas com maestria. E olha que, depois de tanto tempo, o estúdio ainda nos surpreender é um feito enorme.

Cena do filme: Aqui não dá para fugir do clichê. A cena em que a Mérida disputa a própria mão em casamento é poderosa por mostrar a habilidade, a força e a revolta da protagonista naquele momento. A câmera lenta da última flecha destruindo a do “adversário” é perfeita.

22. Carros (Cars | 2006)

Cena do filme, com o Relâmpago McQueen apostando uma corrida com o Doc Hudson

Esse foi o filme da Pixar que mais assisti. Meu sobrinho fazia questão de ver pelo menos 65739 vezes ao dia quando era pequeno, então sei até falas de cor. Entendo perfeitamente o apelo que ele possui com as crianças, principalmente as que curtem carrinhos – como ele curtia. Ele só está bem abaixo neste ranking porque é simples demais perto do que o estúdio tinha feito até então.

Dos lançamentos até 2006, Carros possui a pegada mais infantil. Não há nenhum demérito nisso, que fique registrado. Ao contrário de muitos, gosto da ideia de antropomorfizar carros e brincar com o universo para girar em torno disso. O visual de cada personagem é característico e bem construído, com detalhes que mostram o cuidado da Pixar. Meu problema está é com a trama.

A relação entre o veterano Doc Hudson e o Relâmpago McQueen é, para mim, o trunfo do filme. Gosto de como a arrogância deixa o jovem cego para os potenciais de outros carros e como o abandono das pistas deixou traumas profundos no mais velho – e isso ficou ainda mais interessante em Carros 3. As corridas são interessantes e tudo que gira em torno delas me encanta. O ponto baixo está justamente no meio, em toda a parte com o Mate e os moradores de Radiator Springs, com piadas que cansam quando entendemos onde o filme quer chegar. E, como entendemos isso bem rápido, não é nada sutil. Um divertimento simples demais, só isso.

Cena do filme: A mensagem aqui é desacelerar e aproveitar o momento. Não por acaso, acho que a melhor cena é a que representa esse conceito. Quando Relâmpago McQueen sai para dar uma volta com Sally e vê uma cachoeira, o ritmo cai. É o personagem percebendo, talvez pela primeira vez, que há mais a ser explorado e que precisa desfrutar melhor a vida.

21. Universidade Monstros (Monsters University | 2013)

Imagem do Mike criança, com um boné da Univeridade Monstros e um sorriso de aparelho

Quando anunciaram que Monstros S.A. teria sequência, fiquei apreensivo. Tive medo da Pixar atender o pedido dos fãs e explorar o futuro da Boo, mas me tranquilizei quando vi que seria um prequel (embora uma nova série nesse sentido foi lançada em julho de 2021). Ignorando que o Mike Wazowski diz conhecer o Sulley desde a infância no primeiro filme, a nova obra aborda como eles se tornaram amigos na universidade e o como se tornarem assustadores. Ou seja, finalmente o primeiro filme de faculdade da Pixar.

Universidade Monstros não tem 10% da energia e inovação de Monstros S.A., mas mesmo assim é bem gostosinho de assistir. Dar mais destaque para o Mike é um acerto porque ele sempre foi a alma da dupla. Sulley era assustador, Mike não. E ele sabe disso. É só uma bolinha verde com um olho e ninguém tem medo disso. Vê-lo se esforçar para conseguir se sobressair na universidade é incrível. É, ao mesmo tempo, uma mensagem potente contra e a favor da meritocracia. Porque eles falham. Nenhum dos dois consegue o que queria, sendo expulsos. Mas o bom trabalho os levou até onde eles se encontram no primeiro filme. Parece contraditório, mas isso é bem trabalhado a ponto de não incomodar.

Em meio a isso, temos novos personagens interessantes, uma diversidade enorme nos figurantes e um ambiente bem delimitado. Embora abuse de alguns clichês de filmes universitários nos Estados Unidos, consegue explorar bem o carinho que temos por Mike e Sulley e mostrar o surgimento de uma bela amizade, em um contexto crível para o espectador. Segue como uma “sequência” desnecessária, porém gostosa de ver.

Cena do filme: A conversa entre Mike e Sulley na beira do lago, nos momentos finais do filme, é a síntese de cada um dos personagens. Enquanto um é inseguro, o outro é superconfiante. Isso traz problemas para os dois, escancarados em uma cena que retrata bem o que é ter um amigo e poder contar com ele a todo momento.

20. Carros 3 (Cars 3 | 2017)

Close na lataria do Relâmpago McQueen, mostrando o adversário Jackson Storm ao fundo

De todos os filmes que assisti para fazer este ranking, Carros 3 era um dos poucos (junto com Os Incríveis 2) que ainda não tinha assistido. E não imaginei que fosse gostar tanto, ainda mais avaliando o histórico da franquia. Ao lidar com a obsolescência do Relâmpago McQueen frente aos carros novatos no circuito, mais tecnológicos e aerodinâmicos, há uma discussão interessante sobre questões pouco presentes no universo infantil: se sentir incapaz frente às novidades e as dores da aposentadoria.

Além disso, Carros 3 acerta ao ignorar o que aconteceu em seu antecessor. Há uma devida reverência a Doc Hudson, personagem tão importante para o desenvolvimento do McQueen e morto entre o primeiro e o segundo filme. A trama gira ao redor da figura desse mentor, com os ensinamentos deixados e o papel que ele tem no futuro do McQueen, agora um veterano ganhador da Copa Pistão. O filme também acerta em deixar o Mate como um simples coadjuvante, evitando o desconforto de Carros 2.

Os novos personagens são carismáticos e têm arcos bem desenvolvidos. Embora fique claro o caminho a ser seguido, até o final há uma tensão sobre como a trama será desenrolada. O treinamento e as viagens contribuem para o crescimento de cada um e para o desfecho, deixando mais redondo e orgânico do que em Carros. A franquia como um todo não está entre minha preferida da Pixar, porém este filme é o ponto mais maduro dessa história e merece o reconhecimento como tal.

Cena do filme: McQueen sabe quando ser babaca desde o primeiro filme, mas neste ele ultrapassa o limite e humilha a treinadora Cruz Ramirez. Magoada, ela pede para descer do caminhão e explica as frustrações que carrega, deixando o corredor até tonto. É um momento chave para a virada dos personagens e muito bem construído, de forma orgânica na trama.

19. Dois irmãos (Onward | 2019)

Barley e Ian se abraçam em um fundo roxo de pôr-do-sol

A partir deste ponto as coisas ficam mais difíceis, pois tenho um carinho maior por todos os filmes. Dois irmãos é uma obra que seria um grande destaque em qualquer outro estúdio, mas acaba menor no portfólio da Pixar. Mas quanto mais penso nele, mais gosto. E muito se dá por tratar de uma relação que o estúdio nunca tinha falado: a de irmãos.

O maior trunfo e a maior decepção em Dois Irmãos é ambientar uma história tão mundana em um cenário tão rico. Em um mundo povoado por criaturas tiradas de lendas, a tecnologia conseguiu substituir a magia. Isso abre muitas possibilidades, mas que acabam pouco exploradas pela trama. Há mais piadinhas pontuais do que esses elementos sendo usados para movimentar a história. Isso tira um pouco do brilho do filme, mas a história compensa.

Nela, os irmãos Ian e Barley Lighfoot ganham um artefato mágico capaz de reviver o pai por um dia, pois ele morreu quando o mais velho ainda era pequeno – deixando apenas quatro memórias na mente do garoto e nenhuma na do mais novo. A magia só consegue reviver metade do pai, então os irmãos saem em busca de uma pedra mágica para ajudá-los a recriar a outra metade. Com toques de Um morto muito louco e aventura de RPG, o filme se foca no poder das relações e do cuidado com quem amamos, por mais que isso não fique evidente no dia a dia. É uma ode aos pequenos momentos e a quem está do nosso lado. Uma eterna lembrança para valorizar o momento e parar de idealizar o passado.

Cena do filme: Como acompanhamos de perto o drama de Ian, impedi-lo de conhecer o pai é um soco no estômago. Ao mesmo tempo, é uma decisão coerente com a mensagem passada minutos antes, quando o garoto percebeu o papel do irmão mais velho em sua vida. Deixar apenas o Barley se despedir e criar uma última lembrança feliz é lindo, culminando com a cena em que os dois conversam meio encabulados sobre como foi o último encontro com o pai.

18. Elementos (Elemental | 2023)

Elementos é a primeira incursão da Pixar no gênero comédia romântica, mesmo que o estúdio já tenha trabalhado o tema “romance” com maestria em Wall-E e Up e de forma mais discreta em Toy Story 4. Aqui, porém, temos presentes todas convenções do gênero. Um casal que não pode ficar junto devido a suas diferenças, a aproximação lenta e gradual, os encontros transformadores, a inevitável separação e a declaração de amor apaixonada no final. A cartilha seguida à risca. Mas Elementos vai além disso.

Faísca é descendente da primeira geração de imigrantes do reino de fogo para a cidade Elemento. Um local hostil para esses seres, que precisaram criar uma comunidade própria e afastada do centro para fugir do preconceito. Uma família que sacrificou tudo para criar a filha, para prepará-la para cuidar da loja e, assim, perpetuar a tradição. O conflito de Faísca envolve um futuro do qual não sabe se quer seguir por escolha própria ou se está apenas cumprindo um roteiro preestabelecido. Essa jornada pessoal é o ponto mais interessante de todo o filme, pois apresenta uma questão diferente em um gênero já tão saturado.

Até mesmo porque o romance da Faísca com o Gota não tem nenhum ponto de destaque. É aquela típica história de opostos que não podem ficar juntos, mas elevada a um ponto de que um pode literalmente destruir o outro. É fofo e tem bons momentos de construção da relação entre os dois, mas, ao mesmo tempo, é muito brega em outros pontos. Mas qual amor não é brega, não é mesmo?

O maior problema de Elementos, porém, é não explorar todos esses temas em sua completude. A técnica visual é impressionante, mas o romance soa apressado, sem a devida construção gradual de uma paixão. Os conflitos dos protagonistas são apenas levantados, mas nunca tem alguém para colocar o dedo na ferida mesmo. Além disso, eles tiveram uma oportunidade única de construir um final diferente e inesperado, mas decidiram partir para o caminho mais tradicional e clichê possível. Enfim, é um filme bonitinho, mas que não consegue passar disso.

Cena do filme: Aqui é inevitável citar o momento em que os dois se encostam pela primeira vez. É algo feito após um momento de extrema tensão para os dois e que poderia ter consequências gravíssimas. Mas eles decidem tentar. E a junção da água com o fogo provoca apenas um vapor que contagia os dois. Que mostra que é possível eles viverem aquele amor na plenitude que desejavam. O abraço de alívio dos dois é lindo.

17. Toy Story 4 (2019)

Cabeça do Woody desfocada em primeiro plano, mostrando a Betty focada ao fundo, olhando para a esquerda distraída

Acho o final de Toy Story 3 perfeito e acredito que a franquia deveria ter se encerrado ali. Torci o nariz quando a Pixar anunciou a continuação, mas decidi ir de peito aberto e fiquei feliz por ver que havia mais uma ponta a ser fechada. Afinal, como o próprio título diz, essa é uma história dos brinquedos, não do Andy. E o ciclo do principal brinquedo da franquia precisava ser encerrado.

Woody sempre foi um personagem muito fiel à sua criança – mesmo em Toy Story 2, quando hesita em voltar para o Andy. Ao mesmo tempo, ele sempre foi acostumado a ser protagonista. A trama de Toy Story gira em torno disso, inclusive. Se ver sem o papel de liderança e deixado de lado pela Bonnie dói. Ele tenta contornar isso quando a garota cria o Garfinho. O cowboy se vê com a missão de protegê-lo e, consequentemente, garantir a felicidade de sua criança. Isso, porém, não é suficiente para preencher o coração dele.

O retorno da Betty evidencia o papel do Woody junto à nova criança e gera questionamentos sobre a natureza de ser um brinquedo. A “vilã” ajuda a mostrar a importância de ser amado, tendo um desfecho que contribui para estabelecer o futuro papel do Woody. Uma construção gradual para que o cowboy decida deixar a Bonnie prosseguir sem ele e permanecer no parque junto com a amada, auxiliando outros brinquedos a encontrarem seu destino.

Como o filme é todo do Woody, os demais personagens acabam sendo meros coadjuvantes. A jornada do cowboy em convencer o Garfinho de que ele é o brinquedo mais importante da Bonnie mostra o amadurecimento do personagem e o prepara para o passo final. Ele sai dos holofotes pela primeira vez e abre espaço para outros. O distintivo de xerife vai para a Jessie. A liderança permanece com a Dolly. A responsabilidade de cuidar de todos fica com o Buzz. E a vida segue, como tem que ser.

Cena do filme: Podia ter colocado a cena da despedida entre o Buzz e o Woody, mas outra é mais pesada para mim. Quando o cowboy é deixado no armário pela terceira vez seguida, ele percebe que a criança não tem mais interesse nele. É desesperador ver todas as decisões tomadas a partir desse momento, só para tentar reafirmar seu lugar. Um momento para não esquecer, assim como Woddy não se esquecerá da primeira bolinha de poeira formada.

16. Vida de Inseto (A Bug’s Life | 1998)

Cena em que aparecem todos os insetos do circo juntos, dentro do formigueiro. Na ordem estão o louva-deus, a borboleta, os dois tatus bolas, o joaninha deitado em uma flor, com a pata quebrada, a lagarta, a aranha, o bicho-pau e o besouro

Vida de inseto é o patinho feio da Pixar, muitas vezes esquecido por quem curte os filmes do estúdio e deixado de lado nos rankings. Também pudera, a segunda obra lançada por eles não tem o charme de Toy Story e nunca recebeu a devida atenção em merchandising ou continuações. Mas nem por isso ele é menor e essa revisita me fez gostar ainda mais da história contada.

A busca da formiga Flik por insetos para ajudar contra os abusos dos gafanhotos, liderados pelo excelente vilão Hopper, é uma boa releitura de Sete samurais, adaptada para o contexto infantil. Usar membros de uma trupe circense é a reviravolta necessária para dar comicidade à história, que deixa de ser sobre um grupo de habilidosos lutadores para se basear em torno da verdade e da coragem. Com o acréscimo de que cada personagem tem charme e contribui para arrancar uma risadinha que seja.

Por mais que Vida de inseto não seja uma obra-prima digna de top 10, ainda assim é um filme querido e gostoso de assistir. É bom ver, inclusive, que a animação não ficou tão datada quanto poderíamos esperar, evidenciando que a Pixar sempre foi boa e evoluiu de forma absurda nas últimas décadas.

Cena do filme: Um momento que sempre me diverte é a encenação das crianças sobre o ataque dos gafanhotos, imaginando como será o confronto. É singelo e cruel, pois mostra os horrores de uma batalha de forma divertida, fazendo com que os insetos do circo percebam pela primeira vez onde se meteram. As formiguinhas falando “Morri!” e o detalhe da lagarta Heimlich cortada ao meio no “cartaz” me deixa com um sorrisinho de canto de boca toda vez.

15. Os Incríveis 2 (Incredibles 2 | 2018)

Família posa ao lado de todos os super-heróis apresentados ao longo do filme

O lançamento de Os Incríveis 2 (único filme da Pixar que merecia uma continuação) veio 13 anos após o original, em um momento que estamos soterrados por obras de super-herói e começamos a ver a desconstrução do gênero. Talvez por isso, o filme acabe caindo em muitas das convenções exploradas à exaustão por outros longas. A boa notícia é que nem isso o impede de ser uma ótima peça de entretenimento.

Situado imediatamente após os acontecimentos de Os incríveis, o filme retoma a discussão sobre os super-heróis na sociedade e traça um plano para trazê-los de volta à ativa. O grande mérito é adaptar essa premissa para os debates atuais da sociedade, colocando em pauta um tema intrinsecamente familiar: os papeis da mulher e do homem em casa. Ao colocar a Mulher Elástico no foco das ações, a obra traz à tona o machismo intrínseco do Sr. Incrível e as dificuldades de se cuidar de uma casa com três crianças. Não ser o homem provedor e estar fora do combate incomoda o personagem, que precisa lidar com essa questão enquanto resolve problemas de matemática e controla um bebê descobrindo seus poderes.

O filme se perde, porém, na trama que envolve o vilão. Gosto muito do que fizeram com o Síndrome no primeiro filme, mas neste a reviravolta é previsível e pouco orgânica. A motivação do novo antagonista é fraca e a execução é pouco engenhosa. Com isso, não há uma questão importante de fato a ser levantada como há na primeira obra, apenas uma luta genérica contra um vilão qualquer.

Cena do filme: Se o Zezé tinha roubado a cena no final do primeiro filme, aqui os poderes ganham novos contornos. A cena dele descobrindo o que de fato pode fazer é incrível, colocando o bebê contra um adversário à altura: um guaxinim que aparece para mexer no lixo da família. É divertido tal qual o Homem Aranha descobrindo seus poderes no primeiro filme do Sam Raimi.

14. Red: crescer é uma fera (Turning red | 2022)

Cena do filme em que a personagem principal está transformada em um panda vermelho gigante, com uma cara apavorada dentro de um banheiro

Luca marcou a primeira aventura da Pixar em um coming of age, explorando questões familiares e criando uma história de crescimento cativante entre Alberto e Luca, fugindo de algumas convenções. Red marca a segunda incursão do estúdio nesse gênero, dessa vez na pele de uma menina com descendência asiática, e prova que eles sabem explorar bem as convenções desse tipo de filme, mas colocando um toque que só a Pixar costuma ter.

A história de Mei Mei é uma grande metáfora para a chegada da adolescência, quando nossos hormônios estão no pico e tudo está em constante mudança ao nosso redor. A garota se transformar em um enorme panda vermelho é uma ótima representação de como nos sentimos deslocados nessa época da vida e os conflitos familiares são uma maneira de mostrar aquele momento em que estamos tentando descobrir quem somos. Ou seja, o checklist do que deve estar presente em um bom coming of age está todo presente.

Além disso, a história foi embrulhada em uma linguagem um pouco diferente do que o estúdio estava acostumado a fazer até então, mais estilizado e com recursos visuais cartunescos – o que pode ser um reflexo direto do sucesso de Homem Aranha no aranhaverso e uma inspiração nos animes japoneses. Apesar disso, aquele apuro estético que só a Pixar consegue ter está presente em cada segundo do filme, mostrando que não dá para esperar menos do estúdio.

Meu único problema com Red é que ele tem uma história menos universal do que os filmes que estão à frente dele nessa lista. Ao imergir na cultura dos descendentes asiáticos no Canadá, alguns pontos desse coming of age ficam específicos demais. É uma delícia ouvir essas histórias diferentes da minha realidade, mas isso também implica que ela vai me pegar menos no lado pessoal como outros filmes aqui fazem.

Cena do filme: É uma coisa simples e que acaba guiando toda a história, mas a Mei Mei perceber que as amigas delas são a forma de controlar as explosões que a transformam no panda vermelho é bonitinho demais. Na primeira vez que elas encontram a menina, as amigas a aceitam de imediato. Sem questionamento, sem briga, sem rivalidade. Apenas um abraço que mostra como uma boa amizade deve ser.

13. Toy Story 2 (1999)

Cena do filme com foco na cara do Woody, da Jess e do Bala no Alvo assistindo televisão

Toy Story 2 é uma lição sobre como deve ser feita qualquer sequência. Há respeito pelo original e pelas características dos personagens, uma progressão natural da história e a sensação de que estamos vendo algo novo. Agora podemos ver com maior facilidade, mas a franquia Toy Story sempre transitou bem por diferentes gêneros. Podemos considerar o primeiro como uma aventura, o terceiro um filme de prisão e o quarto um romance, mas este nada mais é do que um grande drama com pitadas de comédia.

As conversas sobre abandono e futuro fazem adultos e crianças refletirem. A trama envolvendo o Woody, Jessie, Bala no Alvo e Pete Fedido é cercada por um sentimento de melancolia, com o boneco percebendo que estar com o Andy para o resto da vida é uma falsa ilusão. Afinal, como o próprio Pete diz, não há garantia de que o menino levará seus brinquedos para a faculdade ou quando se casar (o que é, basicamente, a trama de Toy Story 3). Isso causa ainda mais impacto no Woody depois que Andy o colocou na prateleira de cima após um simples rasgo.

Junte-se a isso a ideia de ser imortalizado e amado para sempre, temos um ótimo conflito formado. Além disso, tudo é pontuado por ótimas cenas de ação dos personagens secundários, que saem para resgatar o cowboy e se envolvem em uma série de contratempos. Uma sequência que não deve em nada a seu material original e que só perde de sua sequência porque, aí sim, estamos falando de uma obra-prima do cinema.

Cena do filme: Aqui não tem jeito. Quando a Jessie começa a cantar When she loved me, o filme ganha contornos até então inéditos para a franquia. O tema do abandono não havia sido explorado no primeiro longa, mas nesse chega com os dois pés no peito e deixa evidente o trauma que a personagem carrega em todos os filmes seguintes, mesmo que tenha uma criança para chamar de sua.

12. Luca (2021)

Alguns podem dizer que Divertida Mente foi o primeiro coming of age da Pixar, mas acho que não. Ainda faltava aquele filme para mostrar como é esse momento de crescimento na vida de qualquer criança, quando você percebe que tudo está mudando para que possamos descobrir um novo mundo. Luca é, de fato, o primeiro a entregar isso. Ao contar a história de Luca e Alberto, dois jovens monstros marinhos que começam a explorar sozinhos o mundo dos humanos, ele destaca a importância de buscar o desconhecido, de se entregar e viver como se deve.

Luca é sobre desafiar seus limites, enfrentar os medos e entender qual caminho você quer seguir. É uma pequena rebeldia juvenil, um enfrentamento ao que nos foi imposto a vida inteira, ao eterno questionamento de tudo que está a nossa volta. Sobretudo, é uma história de amizade no seu sentido mais puro. Um dos filmes mais infantis da Pixar, mas isso não é um demérito – pelo contrário, é o maior trunfo. Uma história sem grandes pretensões quanto Soul, mas que é um refresco de verão na praia.

Aliás, se passar em uma cidadezinha de pescadores da Itália dá ainda mais charme para a história. É a tensão, o medo subliminar de ser descoberto que embala os personagens. Mas nem por isso eles deixam de se entregar. É um filme que bebe muito em filmes clássicos de amizade dos anos 1980, como Conta Comigo, e entrega com uma roupagem moderna e com a cara da Pixar. Uma obra sólida, com a qualidade visual e de contar histórias de sempre da Pixar.

Cena do filme: Escolhi um momento que está até no trailer, mas que representa muito para a mensagem do filme. Quando Alberto está tentando convencer Luca a descer o morro na Vespa improvisada, ele fala que há um pequeno Bruno na cabeça dele, julgando as ações. SILENZIO, BRUNO é o comando para parar de ouvir essa voz e seguir. É o impulso que te coloca na garupa, que faz você perder o medo de coisas simples que te prendiam. Ele passa toda a decida balbuciando silenzio, Bruno e, quando os dois decolam, é possível ver que tudo valeu a pena. Talvez a cena que mais mostra a magia do filme.

11. Soul (2020)

Joe, já em formato de alma, encara o grande além com uma cara de espanto

Por mais que trate de temas complexos, como o propósito da vida, Soul é um dos filmes mais bem intencionados da filmografia da Pixar. Lançado no meio da pandemia, nos fez olhar para os pequenos momentos e apreciar os detalhes. Caminhar pela rua, aproveitar uma boa fatia de pizza, sentir a brisa do fim de tarde. Nos lembra que não há um spark (o filme traduz para “propósito”, mas os coachs destruíram essa palavra. Prefiro “fagulha”) para a vida, apenas você vivendo e descobrindo o que gosta.

Quando a jornada do professor de música Joe em busca da tão sonhada gig com uma saxofonista famosa termina de forma abrupta, com a morte do personagem, passamos a acompanhá-lo no além vida. Ele tenta de tudo para voltar para a Terra, pois acredita que enfim terá a chance de tocar com alguém importante e ser feliz de fato. A convivência com a alma número 22, porém, muda essa perspectiva. Quando eles retornam para a Terra, em uma tradicional trama de corpos trocados, tudo o que ele acreditava muda de forma radical.

Apesar de algumas regras desse universo ficarem em aberto, ele é tão inventivo e bonito que embarcamos de cabeça em jornadas de crescimento tão pessoais. O filme mostra como, às vezes, aquilo que você sonhou por tanto tempo não é nada de mais. Ou que você pode encontrar prazer onde nunca havia imaginado. É alguém que queria ser veterinário e, por questões da vida, se torna cabelereiro. Ou alguém que sonhou com um grande show e percebe que aquilo não é um ponto de virada da vida. É uma obra sensível, que toca em pontos que todo mundo se questiona ao longo de sua trajetória. Talvez por isso tenha sido um dos que mais permaneceu comigo após ter assistido pela primeira vez.

Cena do filme: Por mais que algumas pessoas esperassem um final amarradinho, achei o primeiro final em aberto feito pela Pixar de uma beleza indescritível. Não precisamos saber o que acontece com o personagem. Há um caminho a ser explorado longe dos nossos olhos. Terminar com ele saindo pela porta de casa, respirando fundo e olhando para o futuro é lindo. É a síntese da mensagem do filme em uma única cena.

10. Up (2009)

Casa de Carl sendo carregada por balões de gás hélio em um céu completamente azul

Antes que venham me jogar pedras por Up estar no meio do ranking, deixa eu me explicar. O início desse filme é uma das coisas mais bonitas que a Pixar já fez. Quem questionar é louco. A forma como contam a história do casal Carl e Ellie é uma aula de narrativa, emocionante e cheia de sentimento. Se eu tivesse um coração, teria chorado. Por ela ser tão bonita, porém, muitos esquecem que há mais uma hora e vinte minutos de filme pela frente, para o bem e para o mal.

O maior trunfo de Up é lidar de forma leve com temas tão profundos como o luto e a quebra de expectativas diante das incertezas da vida. Quando Ellie morre, Carl se vê sem rumo, preso a uma casa engolida pelo futuro que a cerca. A imaginativa fuga carregado por balões representa essa tentativa de se reconectar com o passado, de buscar o sonho a qualquer custo, carregando o que se considera mais importante e fugindo daquilo que te mantém preso. A figura do pequeno escoteiro Russell é mais um lembrete de que é importante voltar a viver e que ainda há muito a ser feito.

Quando os dois chegam em Paradise Falls, porém, o filme começa a me perder. O cenário não é tão bonito e toda a trama envolvendo cachorros que falam e o vilão Muntz diminuem o impacto emocional do longa, que sai do rumo inicial e dedica-se a resolver outro problema antes de voltar ao que realmente importa. Quando assisti no cinema, a questão dos cachorros falantes me incomodou mais. Agora, consigo até ter carinho pelo dobermann com voz fina. Apesar disso, as situações destoam demais do tom traçado e, por isso, fazem Up ficar no meio desta lista.

Cena do filme: Quero ver quem seria louco de escolher outra cena senão a que abre o filme. A construção da história de amor entre o Carl e a Ellie é belíssima e regada à uma das melhores trilhas sonoras da Pixar (Married life é simplesmente genial – e essa será a única vez que vou usar essa palavra, para você sentir o peso da declaração).

9. Procurando Nemo (Finding Nemo | 2003)

Cena do filme em que o peixe palhaço Marlin está olhando com uma cara desconfiada para a Dory, que tenta animá-lo.

Um dos melhores road movies já feitos na história do cinema não poderia ficar de fora do top 10. Afinal, Procurando Nemo nada mais é do que um típico filme de viagem, recheado por coadjuvantes carismáticos, situações diversas que ajudam a avançar a trama, perigos de morte para os personagens e lições importantes aprendidas e internalizadas. Com isso, as tramas acabam soando episódicas? Sim, mas tudo é tão redondinho e gostoso de assistir que nem dá para reclamar.

O filme me ganha mesmo é nas lições recebidas no caminho e na forma como elas são passadas. Desde o início somos apresentados aos perigos do oceano, quando Marlin perde a esposa Coral e quase toda a ninhada para um ataque de predador. É natural, portanto, que o peixe palhaço se torne um pai super protetor com o único filhote que restou. Para completar, Nemo possui uma deficiência na nadadeira, representando os cuidados excessivos que se costuma ter com filhos que possuem algum tipo de deficiência. Marlin aprende a duras penas a deixar seu filho ir e explorar o mundo. A ajuda dos incríveis personagens secundários é fundamental para isso, como os tubarões tentando parar de comer peixes, as tartarugas hippies e, claro, a alma do filme: Dory.

Além disso, Procurando Nemo é um avanço absurdo na técnica da Pixar. O que eles conseguem fazer com a iluminação e a movimentação embaixo d’água é um esculacho com outros filmes que tentaram fazer o mesmo. As expressões dos personagens são caricatas e, ao mesmo tempo, críveis para quem está assistindo – principalmente nos detalhes, como na nadadeira acelerada do Nemo ou nas expressões da Dory toda vez que se esquece de algo. É divertido e emocionante, digno de estar nesta posição.

Cena do filme: Em um filme recheado por pequenos momentos brilhantes, acho que é na viagem com as tartarugas que há um maior desenvolvimento do Marlin e, por isso, escolho essa como a cena do filme. É quando o personagem demostra sua preocupação genuína com a Dory e recebe lições sobre a importância de estabelecer limites na criação dos filhos, mostrando que eles são capazes de seguir o próprio caminho.

8. Toy Story (1995)

Cena da primeira interação entre o Woody e o Buzz, em cima da cama, em que o Woody ri da cara do Buzz, apontando o dedo na cara dele, que o olha com cara de mal

Quem diria que o primeiro filme produzido pela Pixar, há quase 30 anos, ainda seria um dos melhores da história do estúdio. Tirando algumas limitações técnicas, em especial na animação de seres humanos, a história é tão boa e com personagens tão icônicos que merece todas as ovações recebidas. Tenho boas memórias por ter sido o primeiro longa da Pixar que vi, mas ter assistido novamente para fazer essa lista me mostrou que não era a nostalgia falando mais alto, é realmente um baita filme.

A começar pela inventividade da história. Um mundo em que os brinquedos têm vida própria já é incrível, mas rechear com uma trama baseada em ciúmes é um ótimo primeiro passo do estúdio, fugindo de padrões logo em sua primeira oportunidade. O Woody é quase um vilão neste primeiro filme, controlador e disposto a tudo para conquistar de volta seu lugar de brinquedo favorito. Buzz Lightyear, por outro lado, é a novidade brilhante que encanta os olhos. O bom coração aventureiro disposto a ajudar a todos, pois essa é sua missão. A interação dos dois e como eles quebram suas concepções preestabelecidas é o ponto alto do filme.

A forma como as cenas são construídas, a escolha de ângulos da câmera, as frases de efeito, os loopings narrativos e a criação de um vilão memorável são as marcas registradas de um filme que resistiu muito bem ao tempo. Prova disso é o carinho que o próprio estúdio tem com os personagens, criando sequências tão boas quanto o original – cada uma à sua maneira – e entrando de vez para a história do cinema.

Cena do filme: Se o arco do Woody envolve aceitar que o Andy pode ter outro brinquedo favorito e que ele precisa dividir a liderança, o arco do Buzz Lightyear é de descoberta pessoal. A cena em que ele se vê na televisão e percebe que de fato é um brinquedo é devastadora, ainda mais pensando na consequência da revelação, que envolve ele tentar voar, cair de forma patética e perder um braço. Perfeição define.

7. Monstros S.A. (Monsters, Inc. | 2001)

Foco na cara da Roz, uma monstra que cuida da documentação, com a tradicional cara emburrada e um óculos de avó, puxado nas laterais e com aquela cordinha.

A partir deste ponto, todos os filmes foram classificados por mim como cinco estrelas e um coração, mostrando o quanto amo cada um. Quem tem a honra de abrir a lista de pequenas obras-primas é Monstros S.A., uma das criações mais inventivas da Pixar. Quando foi lançado, o estúdio tinha se aventurado pelo mundo dos brinquedos e dos insetos, mas decidiram ir além e criar uma sociedade inteira apenas de monstros, nos mais diversos formatos e jeitos possíveis.

Esse cenário poderia ser palco de diversas histórias, das mais simples às complexas, mas a Pixar escolheu contar uma que mescla o pessoal com a ordem preestabelecida para aquele mundo. No contexto em que crianças são vistas como seres tóxicos, mas úteis para a geração de energia, é uma ótima estratégia narrativa juntar o responsável pelo recorde de sustos com uma das meninas mais fofas vistas no cinema. A construção da relação entre o Sulley e a Boo é gradual e com um real senso de progressão e de perigo. Você acredita no vínculo que eles criaram e torce pelos dois como poucos filmes fazem. Tudo isso pontuado pelas intervenções feitas pelo pragmático, porém sempre afobado, Mike Wazowski, que são hilárias e mostram o real sentido de uma amizade.

Tudo é tão bem construído que sentimos a dor do Sulley quando ele acredita que perdeu a garotinha para sempre ou quando eles precisam se despedir, em uma das cenas mais tocantes já feitas pela Pixar. Até mesmo a trama vilanesca é feita de forma magistral, com uma reviravolta plausível e surpreendente sobre o verdadeiro vilão – um dos monstros mais assustadores daquele universo, mesmo que não parecesse a princípio. Ou seja, uma pequena joia recheada de bom humor que merece estar facilmente neste top 10.

Cena do filme: É impossível não partir o coração quando Sulley deixa a Boo no quarto e a menina entrega todos os brinquedos para ele. Ela abrindo a porta do armário e não o encontrando poderia ser o ápice da emoção, mas isso é atingido quando a porta é recuperada e a câmera se foca na cara do Sulley enquanto ouve um animado “Gatinho!” vindo da menina. É uma sequência linda de morrer.

6. WALL·E (2008)

Cena do filme em que Wall-e interage com um rastro de meteoritos brilhantes

WALL·E é uma obra de arte e tudo que eu disser será pouco para o quanto ele merece ser exaltado. Há uma poesia que a Pixar não atingiu com nenhum outro filme e, sejamos justos, poucos realizadores já conseguiram. O longa consegue passar tanto com tão poucas falas e tem 30 minutos iniciais perfeitos, praticamente um filme mudo em toda sua glória.

A trama companha o robozinho WALL·E em sua missão de limpar uma Terra futurística, tomada pelo lixo deixado pelos seres humanos. Eles se encontram viajando pelo espaço em uma nave altamente tecnológica, mas o rastro de destruição deixado é irreparável. Cabe ao robô realizar o serviço para o qual foi programado até o fim de seus dias – ou até a chegada da EVA, um robô de reconhecimento enviado para a Terra para procurar algo.

O charme deste filme está na figura encantadora do WALL·E. Com um design formidável e curioso por natureza, o robozinho já saiu de sua programação inicial e passa seus dias recolhendo lixo e explorando o planeta no qual foi deixado. Quando EVA chega, a forma como eles se aproximam lembra os melhores momentos de Chaplin, com a criação de um romance nos moldes que o robô via nos filmes. Como se isso não fosse suficiente, temas urgentes são abordados, evidenciando uma agenda ambiental de forma simples e criticando grandes organizações. No fim, uma das obras mais “adultas” da Pixar e também uma das melhores.

Cena do filme: Queria destacar o balé entre o WALL·E e a EVA no espaço, mas não tenho como deixar o primeiro terço do filme de fora. Sei que não é uma cena específica, mas uma grande sequência que culmina com a imagem que ilustra essa seção, do robozinho voando e tocando um anel de detritos espaciais brilhantes. Não tem outra palavra para descrever isso senão poesia.

5. Ratatouille (2007)

Cena do filme em que o rato Remy está deitado com as patas atrás da cabeça, relaxando entre queijos, um pão e uvas

Fico triste por não conseguir colocar Ratatouille mais acima nesta lista, mas seria injusto com os outros filmes e com meus próprios sentimentos se eu fizesse isso. Porque acho, de verdade, que este filme tem um dos melhores roteiros entre todos os lançados pela Pixar. A história do Remy, um rato que só queria poder cozinhar, é inspiradora no ponto certo. A mensagem central é linda e casa perfeitamente com o que tenho como concepção de mundo. E o discurso final feito pelo crítico Anton Ego é sublime em cada linha.

A ideia de que o genuíno talento pode vir de qualquer lugar é perfeita para abrir a mente. É normal ser mediano. Não podemos subestimar ninguém que está tentando algo novo. É nítido que o esforço vai até certo ponto – coisa que fica ainda mais evidente em Universidade Monstros, na figura do Mike –, mas para ser um gênio é preciso algo a mais. Nem todas as pessoas (ou ratos) serão destaques e isso é normal. E ver o Remy lutando contra todas as condições sanitárias para colocar seu talento no mundo é bonito demais.

Já gostava muito desse filme, mas esse vídeo do canal Schaffrillas Productions abriu meus olhos para o quanto ele é incrível. Ratatouille é, no fim, uma discussão sobre a arte em seu estado mais puro, feita de forma espetacular em cada diálogo, cenário e detalhe. Do crítico culinário ao mini chefe. Afinal, um rato está aí para mostrar que, de fato, qualquer um pode cozinhar.

Cena do filme: Poderia escolher o flashback ou a leitura da crítica escrita por Anton Ego, mas o que me tira o fôlego em Ratatouille é a cena da escalada no prédio, quando o Remy chega a Paris. Há um senso de desafio no caminho, mas quando ele chega ao topo e vê a cidade de cima, meus amigos, é de fazer cair o queixo de tão bonito. A representação de um sonho, o encantamento e o medo do futuro, tudo em uma única cena.

4. Toy Story 3 (2010)

Cena final em que todos os brinquedos estão na varanda da Bonnie, com destaque para o Woody e o Buzz sentados, com o astronauta abraçando o cowboy com um braço

Se já estava difícil montar este ranking, agora as coisas se complicam de vez. Toy Story 3 foi, por muitos anos, meu filme preferido da Pixar. Quem me conhece sabe o quão difícil sou para chorar, mas preciso confessar que escorreram lágrimas na primeira vez que assisti. Na revisita, fiquei novamente com a garganta embargada. Não tem como, ele foi feito para isso e cumpre com perfeição o papel.

O carinho que o estúdio tem pelos personagens está nítido em cada segundo e em cada decisão tomada. Toy Story 3 é, no fundo, um filme de fuga da prisão, com um plano mirabolante elaborado e dividido em várias partes para que os brinquedos consigam sair da creche e retornar para a casa do Andy. Mas também é o primeiro filme da Pixar a abordar questões envolvendo o crescimento (depois viria Divertida Mente para aprofundar esse debate) e a importância de desapegar do passado para dar o próximo passo.

A trama gira em torno da ida do Andy para a faculdade e do que seria feito com seus brinquedos quando ele não estivesse mais em casa. Você deve ter passado por essa sensação quando, no meio ou no fim da adolescência, precisou se desfazer de algo que tanto gostava para dar espaço para novos interesses. É normal e dolorido. Marie Kondo tem razão em dizer que você deve manter por perto aquilo que te gera sentimentos bons. Foi o que o Andy precisou fazer, meio que a contragosto, no final, quando Bonnie encontra o cowboy no fundo da caixa. E era a minha sensação de fim de um ciclo quando terminei de ver este filme.

Cena do filme: Fazer com que eu chore é tão raro que não teria como escolher outra cena aqui. Quando o Andy vê o Woody no fundo da caixa e, ainda meio relutante, diz que aquele era o cowboy dele, a lágrima já tinha rolado solta. É uma despedida dolorosa e bonita, com direito a um final mais perfeito ainda quando o Buzz abraça o Woody e os dois olham para o carro do agora ex-dono se afastando ao longe.

3. Viva: A vida é uma festa (Coco | 2017)

Miguel olha com ternura para a mamá Coco enquanto segura uma fruta que se assemelha a uma laranja

Quando eu era pequeno, era fisicamente muito parecido com o Miguel. Moreno, cabelo lisinho em formato de cuia, uma enorme cabeça redonda e grandes orelhas, uma covinha mais proeminente de um lado da bochecha do que do outro, a língua para fora quando se concentra para fazer algo. Isso sem falar no carinho e na proximidade com a família, que é algo muito típico da cultura latino-americana. Mas não é isso que me faz colocar Coco entre os melhores filmes da Pixar – e como o melhor filme que vi em 2018.

Há uma sensibilidade e uma energia difíceis de se explicar neste filme. A história do menino que acaba no mundo dos mortos ao correr atrás do sonho de ser músico – mesmo contra todas as vontades da família –, é encantadora. O personagem principal carrega uma inocência e uma impetuosidade que me ganharam desde a belíssima narração da história familiar, feita por desenhos nas tradicionais bandeirolas. Tudo ganha novos contornos quando ele tenta se conectar com o finado tataravó e se vê envolto a uma trama de traição e, principalmente, de memória.

Não por acaso, a música mais marcante do filme é Remember Me, cantada em três ocasiões e com diferentes efeitos. Uma música que fala sobre se lembrar das pessoas mesmo que elas estejam distantes, a síntese do Dia de los Muertos e de todo o filme. A busca de Miguel por descobrir mais sobre seu misterioso antepassado e conseguir a benção para tocar é linda e culmina em uma das cenas mais potentes de toda a história da Pixar, com o menino aos pés da mamá Coco, cantando a canção feita pelo pai para que ela nunca se esquecesse dele. Aí não tem jeito, o coração explode de emoção.

Cena do filme: As duas vezes em que a mamá Coco ouve a canção Remember Me são muito especiais. A primeira por demonstrar de forma singela o amor de um pai pela filha, mesmo que afastado pela estrada, e a segunda por acionar aquele gatilho mais primitivo em uma pessoa com demência avançada, que resgata uma bela memória oculta. Duas cenas potentes e que merecem estar juntas.

2. Divertida Mente (Inside Out | 2015)

Todos os sentimentos utilizam a chama na cabeça da Raiva para assar um mashmallow. Tristeza está mais afastada, olhando para o graveto vazio porque deixou cair o marshmallow.

Desde que saí do cinema, sabia que Divertida Mente estaria entre meus filmes preferidos da Pixar. Na verdade, sabia disso desde a cena em que as emoções surgem na mente da Riley. Vou cometer uma heresia, mas preciso confessar que essa abertura me emocionou mais do que a de Up. Porque é algo mais próximo, sobre um dos temas que mais gosto em qualquer tipo de história: os momentos de crescimento.

Divertida Mente é mais um esforço bem sucedido da Pixar em traduzir conceitos complexos para o mundo da animação. Neste caso, o que se passa dentro da mente de uma jovem pré-adolescente no momento em que a vida vira um grande turbilhão e os hormônios começam a agir. Quando se tem 11 anos, as mudanças são mais intensas do que o normal, pois estamos formando nosso caráter. Ver cada uma das ilhas de personalidade da Riley desabar é uma representação perfeita de como nos sentimos nessa época, vendo aquilo que acreditávamos ser não corresponde mais à realidade.

Mas o grande trunfo do filme é a excelente caracterização das emoções e a forma como é desenvolvida a relação entre a Alegria e a Tristeza. A dinâmica entre elas deixa a sensação de que sentimentos são complexos e tudo é uma grande mescla de sensações. Que por mais que tentemos, é impossível ser feliz em 100% do dia, sendo necessário dar tempo às situações e saber aproveitar momentos de melancolia. Porque, como a própria Tristeza diz após confortar o amigo imaginário Bing Bong, é importante falar quando se está triste e ter alguém para ouvir.

Divertida Mente é uma pequena obra-prima da Pixar, que só cresce dentro de mim toda vez que penso nas situações retratadas e na importância dos temas discutidos com tanto carinho.

Cena do filme: A queda da ilha da bobeira é o primeiro sinal de que algo está errado com a Riley e, também, de que a menina está crescendo. O que ela – e seus sentimentos – conhecia como porto seguro está desmoronando, sendo preciso se reestruturar e construir algo novo. Uma metáfora visual linda para esse momento de transformação interna.

1. Os Incríveis (The Incredibles | 2005)

Cena de uma briga familiar, em queo Senhor Incrível está levantando a mesa de jantar, a Mulher Elástico está deitada em cima, com os braços esticados segurando os dois filhos, que estão brigando embaixo da mesa

Enquanto reassistia a Os Incríveis para montar este ranking, me veio uma questão muito importante: há algum filme da Marvel que seja melhor? Aliás, há algum filme de super-herói que seja melhor? Pensei apenas em Logan, O cavaleiro das trevas e, talvez, Aranhaverso. Mas é só. Por estarmos falando de um filme lançado em 2005, quando histórias desse tipo ainda eram novidade, o feito é ainda mais espetacular.

Tudo isso só é possível porque o fato da família Pera ser composta por super heróis é só mais um elemento na trama. Os Incríveis é, antes de tudo, uma história sobre conflitos familiares e como as pessoas daquele núcleo se relacionam entre si e com seus poderes. Os questionamentos e as ações do Sr. Incrível, em contraste com os questionamentos e as ações da Mulher Elástica, são humanos como poucas vezes vimos em filmes envolvendo seres superpoderosos. A introspecção se mescla com momentos de ação para que possamos entrar de fato na cabeça dos personagens e criar momentos de genuína conexão.

Junte a isso um vilão à altura para colocar os personagens em teste e temos o Síndrome, um dos antagonistas mais coerentes de toda a Pixar. Desde que foi rejeitado pelo Sr. Incrível, ele cultivou a ideia de que é injusto só alguns terem superpoderes e, se conseguisse fazer com que todos sejam super, ninguém de fato será. É um questionamento válido, que leva a uma carnificina de super-heróis até chegar a quem realmente ele quer derrotar. Uma construção gradual e perfeita de personagem.

Isso porque nem falei dos filhos ou dos personagens secundários, que mereciam um texto próprio para cada um. Os Incríveis deixa a lição de como fazer um bom filme de super-herói quando ainda não estávamos saturados desse tipo de produção. É o que todas as versões de O Quarteto Fantástico quiseram ser e falharam miseravelmente. É mais uma obra-prima da Pixar.

Cena do filme: Após passarem o filme inteiro discutindo os limites dos poderes e permanecendo separados, a família se reúne na ilha do Síndrome para enfrentar os inimigos junta pela primeira vez. É o momento que esperávamos desde o início, em que todos os poderes se unem de forma harmônica para que possam sair da situação complicada em que se encontravam.

Ranking dos filmes da Pixar

  1. Carros 2 (Cars 2)
  2. Lightyear
  3. O bom dinossauro (The good dinosaur)
  4. Procurando Dory (Finding Dory)
  5. Valente (Brave)
  6. Carros (Cars)
  7. Universidade Monstros (Monsters University)
  8. Carros 3 (Cars 3)
  9. Dois irmãos (Onward)
  10. Elementos (Elemental)
  11. Toy Story 4
  12. Vida de inseto (A bug’s life)
  13. Os Incríveis 2 (The Incredibles 2)
  14. Red: crescer é uma fera (Turning red)
  15. Toy Story 2
  16. Luca
  17. Soul
  18. Up
  19. Procurando Nemo (Finding Nemo)
  20. Toy Story
  21. Monstros S.A. (Monsters inc.)
  22. WALL·E
  23. Ratatouille
  24. Toy Story 3
  25. Viva: A vida é uma festa (Coco)
  26. Divertida Mente (Inside Out)
  27. Os Incríveis (The Incredibles)