There’s something inside me that pulls beneath the surface
Consuming, confusing
This lack of self-control I fear is never-ending
Controlling, I can’t seem

Crawling – Linkin Park

Tenho me sentido triste e, enfim, é bom poder falar isso em voz alta sem ouvir meu cérebro me julgando. Esse final de ano, em especial, tem sido ainda mais difícil. Afinal, tudo está completando um ano. Um ano do diagnóstico, um ano dos dias intermináveis passados no hospital, um ano da cirurgia, um ano da notícia de que realmente não tinha mais jeito, um ano do último aniversário e um ano do último Natal. E ainda virá um ano daquele Réveillon passado na beira de uma cama de hospital e um ano da morte da minha mãe. Os piores 365 dias da minha vida até então, sem dúvidas.

Em meio ao processo de luto e de recolher os cacos, a tristeza tem ganhado novas camadas a cada mês. Coisas que nunca imaginei sentir têm invadido meu peito. O choro é constante e vem em momentos aleatórios. Os sonhos com ela são esperados e, ao mesmo tempo, sofridos. Pela primeira vez na vida, tenho total consciência de qual divertidamente está controlando meu cérebro e tenho permitido que ele faça seu trabalho. Mas não quer dizer que eu esteja acostumado. Entendo que é importante para o momento em que estou vivendo e tenho deixado as coisas fluírem como elas querem, no ritmo que elas pedem. Chega uma hora, porém, que a vida precisa voltar a andar.

Eu me conheço bem o suficiente para saber que, enfim, estou nesse processo. A passos lentos, mas estou. Ainda falta um pouco e, nesse meio tempo, sei que estou simplesmente empurrando alguns problemas para debaixo do tapete. Estou usando de escapes fáceis para evitar pensar em coisas e sei bem disso. Mas também sei que estou fazendo isso porque tenho me sentido minado. Seja pelas pequenas coisas que ocorrem todo dia no trabalho, seja com os pepinos estruturais da casa que preciso resolver, seja por questões de relacionamentos ou seja pelas minhas próprias paranoias que surgem do nada e teimam em ficar. Cheguei em dezembro física e emocionalmente esgotado. É uma certeza que só agora consigo expressar melhor, mas que foi um estado constante da minha cabeça nos últimos meses. E isso tem me impedido de seguir em frente como se deve. E se eu não fizer algo urgente, meu corpo não vai aguentar e vou desabar.

A vantagem é que estou consciente disso e disposto a tentar mudar algumas coisas, por menores que sejam. Sei que o principal ponto é conseguir dedicar mais tempo para mim. Deixar um pouco as preocupações do trabalho de lado, ter que resolver menos problemas de outras pessoas e concentrar em mim. Tirar férias de forma decente, fazer alguns projetos pessoais que me dão prazer. Tomar vergonha na cara e começar um exercício físico para controlar melhor a ansiedade. Sei lá. Só sei que preciso olhar um pouquinho mais de carinho para mim – coisa que, vamos admitir, nunca foi o meu forte. Então, a missão para 2024 é conseguir isso, custe o que custar.

Enquanto escrevia o último parágrafo, aliás, acabei percebendo uma coisa. Lendo os exorcismos dos últimos anos, percebi que a última vez que me senti bem de fato foi no final de 2018. Não tem nada a ver com o começo do governo Bolsonaro, eu juro. Em 2019 senti um cansaço extremo (semelhante ao que estou sentindo agora) devido ao trabalho, a pandemia veio na sequência para estragar meu psicológico e, quando as coisas estavam começando a entrar nos eixos de novo, meu mundo desabou por completo com a doença e a morte da minha mãe. São cinco anos vivendo em um estado de tensão absoluto, por fatores internos e externos, que me tiraram do prumo e me fizeram parar de pensar e acreditar em mim mesmo.

Por isso, tudo o que preciso é conseguir um mínimo de estabilidade. Parar de me enganar e assumir os problemas de frente. Até coloquei prazos para algumas coisas terem início e estou me preparando para elas jeito que dá. Aos poucos, do meu jeito. Estou organizando a casa e a cabeça antes de conseguir fazer algo. Ou melhor, antes de anunciar que estou fazendo algo. Enquanto isso vou me cuidando aqui nos bastidores da minha própria vida e preparando o terreno para quando eu me sentir bem de novo.

No fim, quero apenar tirar a tristeza do controle um pouquinho que seja. Retomar uma meta de fim de ano que me coloquei lá em 2010 e que venho seguindo até então: ser a melhor versão de mim mesmo.

Como este é um texto mais emocional e escrito no impulso, não vou revisar. Provavelmente vai ter erros, mas peço que relevem. É um exorcismo, não uma aula de gramática.