Anjos do Sagrado Coração

Colleen Curran
Publicado em 2005
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Não costumo comprar livros no escuro. Procuro sempre por autores que já conheça ou por obras que tenha lido alguma impressão positiva. Nas pouquíssimas vezes em que fugi desse padrão, os resultados foram catastróficos. É o caso de Anjos do sagrado coração (Whore on the Hill, no original). Estava passeando pela livraria, vi a capa bonita e o preço reduzido e pensei: “Ah, deve ser bacana”. Como eu estava errado…

O livro conta a história de Astrid, Juli e Thisbe, três meninas de 15 anos conhecidas pelo carinhoso apelido de “putinhas da colina”. Tudo começa quando Thisbe muda de colégio e vai para um só de garotas. Vítima de bullying na escola anterior, ela conhece Astrid e Juli e muda completamente de vida. As três passam a viver de forma desregrada, com muita bebida, drogas e sexo.

Isso não é um resumo do livro, é ele inteiro. A história é baseada em pequenos acontecimentos que dão o tom da vida das meninas nesse período. O problema é que os capítulos são muito avulsos e os fatos de um praticamente não têm influência no seguinte. No final, eles acabam sem ligação e o livro não tem uma linha narrativa que una tudo que foi dito.

Além disso, a escrita da autora é confusa por si só. Ela é capaz de mudar de cenário, de personagem e adiantar o tempo com apenas uma mudança de linha. Claro que ela não avisa o leitor que isso vai acontecer, então nos pegamos lendo sobre algo que aconteceu de manhã e, na linha seguinte, já estamos à noite indo para uma festa. Nunca de modo orgânico à narrativa.

Outro problema são as personagens, que não têm profundidade. Thisbe, que passou muito tempo sem conversar graças ao trauma sofrido na escola anterior, faz amizade rapidamente com as meninas e muda seu estilo de vida sem nenhum questionamento sobre quem ela é e o que está se tornando. Astrid tem sérios problemas com relacionamentos e de lealdade com as amigas, mas também passa por todo o livro sem uma mudança sequer. Juli é a mais problemática delas, mas até suas tentativas de suicídio e família complicada são tratados com uma superficialidade que incomoda.

E se o final é impactante, ao mesmo tempo soa gratuito. É uma forma de chocar só por chocar, sem nenhuma função narrativa. Não há nem mesmo uma lição de moral que possa justificar o que aconteceu. Nada. É um final sem propósito.

Assim como todo o livro.

Anjos do sagrado coração
Colleen Curran
Editora Record, 2007
303 páginas
Tradução: Luiz Antonio Aguiar e Marisa Reis Sobral