O monstro

Fábio Coala
Publicado em 2013

“Sim, sou um monstro. Nasci roxo, com rabo, asas, um narigão e olhos coloridos. Mas e você, qual a sua desculpa?”

A coisa mais emocionante que li no FIQ inteiro não veio de nenhuma grande editora ou de um autor hiper reconhecido. Veio do estande de webcomics, de um cara que publica tirinhas diariamente na internet desde janeiro de 2010. Estou falando de O Monstro, criado pelo Fábio Coala.

Antes de falar da graphic novel em si, preciso contar como ela nasceu. Tudo começou lá no site Mentirinhas, com pequenas histórias sobre o Monstro que faziam ninjas malditos cortarem cebolas debaixo dos olhos de muita gente. Mentira, na verdade começou bem antes, quando o Coala ainda fazia parte dos bombeiros e ouviu uma história envolvendo um acidente, uma criança e um brinquedo. O personagem foi tomando forma até virar uma história que ficou “trancada no sótão”.

Após algumas tirinhas no blog e a boa aceitação do público, o autor decidiu que era hora de resgatar aquela história empoeirada e colocou o projeto no site de financiamento coletivo Catarse. O resultado é que o projeto foi um dos financiamentos coletivos mais bem sucedidos de lá, atingindo o objetivo financeiro em pouco mais de 24 horas com, no fim, quase 1.000 pessoas apoiando o lançamento.

Mas chega de falar de como o livro surgiu e vamos falar da história. Um monstro, como conhecemos normalmente, é uma “criatura abominável, deformada e cruel que vai arrancar sua cabeça e jogar futebol com ela”. Mas um significado menos comum é “mostrar” ou “advertir” e é para isso que o Monstro existe. Ele está ao lado das pessoas quando elas mais precisam de um apoio em meio ao caos da vida.

Historinha real que aconteceu durante o FIQ 2013

A graça é que, apesar das pessoas de fora enxergarem o Monstro só como um bichinho de pelúcia, cada um que o possui o enxerga de uma forma diferente. Ele pode aparecer como algo assustador, com traços fofinhos, mais cartunesco. Tudo depende do estado de espírito da pessoa. E a história de O Monstro gira em torno deste ser místico, contando como ele foi parar na vida de algumas crianças e de como ele as modificou para sempre, sempre balanceando doses de emoção com momentos de humor e reflexão na medida certa. Mais do que isso eu me recuso a falar para não estragar nenhuma surpresa.

Já com relação aos desenhos, o traço que já conhecemos a partir do Mentirinhas está lá. Mais bonito, claro, mas está lá. As transições entre um capítulo e outro também são bem bonitas. Mas o mais legal do livro é uma coisa que o próprio Coala admitiu que seria muito difícil convencer uma editora a fazer. O livro é basicamente feito em preto e branco, mas algumas páginas especiais são coloridas. Não vou falar o que as faz ganhar cor e já aviso que na primeira vez que isso aconteceu eu soltei um sincero “putaquepariuquefoda” em voz alta dentro do ônibus. Não foi agradável para quem tava do meu lado, mas eu tava encantado demais para me preocupar com aquela pessoa (aposto que era uma velhinha).

Isso sem falar na edição caprichada, com uma capa bonitona e diversos extras no final. Tem os esboços dos personagens, o processo de criação de uma página, a primeira tirinha do Monstro e convidados especiais desenhando suas versões do personagem, com destaques pessoais para as artes do Mario Cau e do Samuel Fonseca. Há dois errinhos de português (um meio que corrigido à caneta na minha edição), mas não é nada diante do que essa graphic novel que merece todos os aplausos possíveis.

E hoje, graças ao Coala, acredito que monstros existem.

O Monstro
Fábio Coala
Independente, 2013
239 páginas

Não é do livro, mas não deixa de ser lindo

P.S.: Meu maior arrependimento no FIQ foi não ter comprado um Monstro de pelúcia. Só li o livro no último dia de evento e imediatamente quis um pra chamar de meu. O problema é que eu já tinha vendido minha alma para o diabo em troco de dinheiro para comprar quadrinhos e esse dinheiro tinha acabado. Vai ter que ficar pro futuro… só espero que as pelúcias não acabem até lá.

P.S. 2: A introdução ficou por conta do Vitor Cafaggi, autor de Valente e da graphic novel da turma da Mônica. Ele conta como já se encontrou com o Monstro por quatro vezes. Desde então, tenho pensado se o Monstro já apareceu para mim, se já tive aquele momento em que tudo havia desmoronado e consegui encontrar forças para reagir. Me dei conta, então, de que nunca tive a oportunidade de encontrá-lo, apesar de ter precisado muito nos últimos anos. Espero encontrá-lo debaixo da minha cama qualquer dia desses para receber conselhos valiosos.