Mal havia começado o primeiro dia de aula e ele já possuía as maiores olheiras da sala. Queria que elas fossem o fruto de longas noitadas com os amigos, bebedeiras homéricas e histórias engraçadas, mas, na realidade, eram apenas reflexo das noites sem dormir. Todas por culpa dela.

Insônia.

Começou quando a namorada viajou para um intercâmbio e o deixou ali, sozinho. Tinham feito planos. Pretendiam passar um tempinho no sítio do pai dela, curtir vários filmes juntos, ficar uns dias a sós se curtindo. Foi quando ela veio com essa história de que não passaria as férias no país. De que não passaria as férias com ele.

A insônia começou a partir do momento em que o avião decolou. E piorou a cada dia sem notícias. A cada mensagem visualizada e não respondida no Whatsapp. A cada espera em vão no Skype. Passava noites em claro imaginando o que ela fazia sem ele. Criava cenários absurdos quando colocava a cabeça no travesseiro. Mas em nenhum deles ela deixava de mandar notícias como estava fazendo.

Porém sabia que tudo ia se resolver. Era o primeiro dia de aula e ela prometeu que iria para a escola. Chegou de viagem no dia anterior e havia dormido desde então – pelo menos de acordo com os pais dela, que responderam irritados a uma das muitas ligações que ele fez. Se sentou no lugar de sempre e colocou a mochila na cadeira da frente para marcar o dela. E esperou.

Ela não apareceu no primeiro horário, não deu as caras no segundo. Na hora do intervalo, ele encarou a triste realidade: ela não viria. Saiu para o pátio e se sentou na arquibancada, a pensar na situação. Foi quando a viu no outro canto da quadra. Estava com as amigas, rindo de alguma coisa, gesticulando muito. Parecia estar feliz. Sem ele.

Seu primeiro impulso foi correr até lá e gritar por explicações. Por que ela estava ali e não na sala de aula? Por que ainda não tinha ido conversar com ele? Porque não atendeu suas ligações? Por que o ignorou durante todo aquele tempo? Por que o deixou aos pedaços e não teve a dignidade nem de juntar o que sobrou?

Antes de tomar qualquer atitude, porém, decidiu respirar fundo. Pode ter acontecido alguma coisa. Será que ela passou a gostar de alguém no intercâmbio e estava com vergonha? Ou a experiência lá foi tão ruim que ela ainda não está pronta para encontrá-lo? Eram milhões de situações e todas eram possíveis.

No fim, nada dentro da cabeça dele fazia sentido. A amava, tinha certeza disso. Não podia negar que, a princípio, ficou chateado com aquela história de intercâmbio. Mas depois passou. Eles conversaram, acertaram tudo. Então ela pisou na bola e não ligou. Não mandou notícias. O deixou sem saber como agir. Mas ele gostava dela, queria ouvir o que ela tinha para dizer. Ao mesmo tempo, a odiava por tê-lo deixado daquele jeito. Nada dentro da cabeça dele fazia sentido.

Enquanto pensava na situação, o sinal indicando o fim do intervalo tocou. Sem percebê-lo, ele continuou sentado no banco. Ela, também sem perceber, se aproximou dele, que olhou para cima e notou a presença dela.

– Oi – disse, em uma voz quase ausente.

Ela se voltou para o banco, assustada. Quando viu que era ele, deu um sorriso sem graça e se sentou.

– Oi. Tudo certo?

– Você sabe que não. A gente precisa conversar.