Entrevista com vampiro

Anne Rice
Publicado originalmente em 1976

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Benditas sejam as promoções do Submarino. Numa delas, comprei seis dos dez livros de uma das maiores autoras sobrenaturais do mundo: Anne Rice. Nascida em plena 2ª Guerra Mundial, em Nova Orleans, publicou o primeiro livro em 1976. E é justamente esse livro que virou seu maior clássico e arrisco dizer que, junto com a obra de Bram Stoker, ajudou a construir o imaginário do vampiro moderno.

É claro que estou falando de Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire). Li há cerca de um mês, mas estava esperando poder assistir ao filme para comentar sobre os dois de uma vez só.

Vampiros Modernos

Quando disse que a Anne Rice ajudou a construir o atual modelo de vampiro é porque a obra criada respeita muito do que Bram Stoker fez em Drácula, mas de uma forma psicologicamente mais densa. É exatamente nisso que Entrevista com o Vampiro se destaca. A história começa com a entrevista que Daniel Malloy está fazendo com um vampiro de cerca de 200 anos, Louis de Pointe du Lac. A partir do ponto de vista de Louis, somos introduzidos no mundo do vampiro, com toda sedução, contradições e medos inerentes.

Em vez de retratar os vampiros apenas como seres sanguinolentos, que só se interessam por matar, Anne Rice mostra o lado mais sentimental e espiritualizado das criaturas. Eles se questionam o tempo inteiro sobre a imortalidade, a dicotomia entre o bem e o mal, sobre o papel que eles desempenham no mundo e como toda essa maldição começou.

Passam-se 200 anos na vida desses vampiros e muita coisa é aprendida (ou não). Louis, por exemplo, sofre por não encontrar respostas para as dúvidas e termina quase do mesmo jeito que começou (pelo menos no livro, já que no filme ele parece mais conformado no final). E o mesmo se desenvolve com todos os demais personagens da história.

Sangue e mais sangue

Eles, aliás, são os principais responsáveis por deixar a história tão foda. As contradições internas de cada um são muito bem retratadas tanto no livro quanto no filme.

Louis de de Pointe du Lac é o vampiro mais humano construído pela Anne Rice. Desde a transformação, ele enxerga tudo com olhos diferentes. É capaz de ficar horas contemplando alguma coisa só para tentar perceber a beleza por trás daquilo. É ele a maior fonte de dúvidas sobre ser um vampiro. Quem não se conforma em ser um assassino e se recusa, por um tempo, a partilhar dessa necessidade constante por sangue. É ele quem levanta as maiores contradições entre o bem e o mal. Nos cinemas, quem teve a responsabilidade de dar vida a esse personagem foi um ator que até então era visto apenas como um rostinho bonito: Brad Pitt, que vivia um momento em sua carreira de mostrar para todos que era um grande ator.

Outro que precisava se firmar e conseguiu fazer isso foi Tom Cruise. Na pele do vampiro Lestat, criador de Louis, o ator encarna o vampiro mais inconsequente da história. Agindo sempre por impulso – característica que fica evidenciada no segundo livro da série, O Vampiro Lestat – , não enfrenta os mesmos problemas psicológicos de seu companheiro e vai levando uma vida vampírica tranquila. E é o que mais se diverte com isso, então nada melhor que ver playboyzinho no figura do Tom Cruise.

O último vampiro fodão do filme é Armand, o mais velho e mais focado dos três. “Dono” do assustador Teatro de Vampiros em Paris, convive com outros de sua espécie, mas é um lobo solitário. Até ele se apaixonar à primeira vista por Louis e a recíproca ser verdadeira. Para Armand, Louis representa a alma de um século que ele não compreende bem. Para Louis, Armand é a fonte de sabedoria que ele buscava. Quem deu corpo e alma ao personagem foi também um ator que precisava se firmar, mas por outro motivo. Antônio Banderas vinha de uma carreira muito forte na Espanha e tinha uma de suas primeiras chances em Hollywood. E a agarrou muito bem.

Mas o personagem mais intrigante do livro/filme é Cláudia, a vampira criança. Transformada por Louis e Lestat para ser a filha dos dois, carrega consigo o maior conflito de toda a obra. Como tinha apenas cinco anos quando virou vampira – 12, no filme –, seu corpo não sofreria as transformações típicas da adolescência, mas sua mentalidade se transformaria ao longo do tempo, até atingir a idade adulta. Presa no corpo de uma criança, é Cláudia quem passa pelos maiores dilemas e seu fim não é nada agradável. E a MINHA E SÓ MINHA Kristen Durnst (que muitos anos depois seria a só minha Mary Jane Watson) é quem encara o desafio de forma espantosa!

Entre mortos e feridos

Tanto o livro quanto o filme são boas obras. O livro tem o charme psicológico dos vampiros e tradução de Clarice Linspector – nem precisa falar mais nada. E o filme traz grandes astros, uma história coesa, uma trilha sonora delicada e imponente (indicada ao Oscar de 1995) e uma ambientação fantástica dos 200 anos passados na trama. Os dois valem muito a pena.

Entrevista com o vampiro (Interview with the vampire)
Anne Rice
Rocco, 1992 (originalmente em 1976)
334 páginas