Se eu pudesse resumir As melhores coisas do mundo em apenas uma palavra, diria que ele é “honesto”. Muita gente endeusou o filme, outros o criticaram veementemente. Fato é que o longa de Laís Bodanzky é um retrato válido dos adolescentes brasileiros e merece todo o burburinho que gerou.

A história acompanha Mano (em excelente atuação do novato Francisco Miguez), um adolescente super comum da classe média paulista, que estuda em um colégio igualmente comum, com amigos comuns. Os problemas que ele passa são problemas comuns da idade e ele tem que aprender a lidar com eles para começar a crescer.

Comum. A palavra foi usada de propósito tantas vezes no último parágrafo para mostrar que a história de Mano é como a de qualquer um de nós. Confusões na família, separação, problemas com o irmão, bullying na escola, primeira transa, bebidas. Quem nunca esteve envolvido com algum desses assuntos simplesmente não viveu nada da vida.

Me identifico mais com o Deco do que com o Mano…

Apesar de serem assuntos já tão falados, a forma como eles são apresentados fazem com que As melhores coisas do mundo seja diferente. É aí que volto pra palavra que resume o filme. Quando ele se mostra com o propósito de ser honesto sobre quem está sendo retratado, ele ganha pontos com quem está assistindo.

E tudo isso graças a uma direção de atores impecável e um roteiro feito a base de muita pesquisa com o público, realizado por Luiz Bolognesi, marido de Bodanzky. Tudo isso contribui para que o filme nunca soe falso a quem está assistindo, como soam a maioria das obras para adolescentes. A relação de Mano com o pai gay, a mãe ainda em sofrimento (Denise Fraga em ótimo papel) e com o irmão mais velho/espelho (Fiuk, também em boa atuação) mostra um drama familiar que pode soar previsível, mas nunca falso.

Mas são as cenas do colégio que mais chamam atenção. Os planos abertos mostram a confusão feita pelos estudantes e, quando o foco vai para os personagens, os probleminhas diários de cada um vêm à tona. Aliás, como o nosso mundo está cada vez mais digital, as notícias correm rápido (o colégio tem até sua própria Gossip Girl) e ninguém escapa.

“Essa escola é um Big Brother do mal, cara. Tá todo mundo vigiando todo mundo. Tá todo mundo com medo de ser o zuado da vez”. MANO, 2010.

E, mesmo com os mesmos temas de sempre, o filme vence qualquer barreira por ser honesto. Não vemos modelinhos de Malhação. Estamos vendo nós mesmos, com todas as qualidades e defeitos.

P.S.: Como não sou tão fã de Beatles, a presença de Something não foi tão marcante pra mim. mas vale lembrar que ela é simbólica pro filme e interessantíssimo ver como ela se insere na narrativa em alguns momentos, além de ser a primeira vez que um filme nacional tem Beatles na trilha.