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Hoje não foi um dia fácil para quem trabalha na imprensa. Tirando o óbvio fato de terem assassinado 12 pessoas na redação da revista francesa Charlie Hebdo, há notícias de que o passaralho rondou o Estado de Minas e levou com ele 12 (que parece ser o número azarado do dia) experientes profissionais, dentre repórteres, fotógrafos, editores, ilustradores e diagramadores.

Essas são apenas duas notícias que servem como um triste exemplo. Se eu fizer uma pesquisa rápida no Google, com certeza vou encontrar mais relatos de demissões por todo o país. Em uma análise bem superficial, podemos colocar esse declínio do Jornalismo na conta da internet e da falta de sustentabilidade das mídias físicas. O antigo modelo vendas + publicidade não é mais suficiente para manter um jornal ou uma revista em circulação. A televisão ainda deve demorar um pouco para sentir o baque, em breve será a vez dela. Os prognósticos não são dos melhores.

Por todos os lugares há uma necessidade latente de encontrar um novo modelo de negócios no qual o Jornalismo seja viável. Existem pessoas experientes trabalhando nisso e nada do que foi tentado até agora apresentou resultados palpáveis. Bloquear conteúdo, como a Folha faz, se mostra ineficaz e gera antipatia com o veículo. O Impedimento tentou formar o Impediclube e ser bancado pelos leitores, mas também não deu certo. Algumas experiências nos Estados Unidos e Europa mostram que pode existir um caminho voltado para essa área colaborativa. Infelizmente ninguém encontrou a fórmula mágica ainda e, pelo transcorrer da história, a tendência é piorar bastante antes de enxergarmos uma luz.

Sem falar que o conteúdo produzido é, em grande parte, de baixa qualidade. Lógico que há muita coisa boa sendo feita e consumida, porém ela acaba sendo minoria. A internet vem, em outra análise superficial, para colaborar com essa falta de qualidade. Como velocidade é palavra-chave em tempos de redes sociais, as matérias saem apressadas em buscas de cliques. Cliques esses que motivam, por exemplo, notas de fofoca invadirem e tomarem conta das seções de cultura (R7, estou olhando diretamente para você), matérias serem produzidas em slideshows, títulos caça-níqueis proliferarem como pragas e criarem sensações passageiras como listas com gifs animados do buzzfeed.

Resumindo: nunca houve uma época tão ruim para ser jornalista.

É por situações como essas que às vezes me pergunto por que raios fiz esse curso. O mercado sempre foi ruim, isso me disseram desde o início. Nunca tive esperança que melhorasse, inclusive. O problema é que os últimos dez anos pisotearem e cuspiram em cima da área e a esperada revolução ainda não veio. Enquanto isso, tudo desmorona.

Antes que venham me perguntar qual a minha proposta de solução, já deixo claro que não tenho uma. Estou só constatando um fato que é fruto constante da minha preocupação. O Jornalismo está mal há tempos e precisamos tentar coisas novas. Ainda não sei o quê. Estou aqui para experimentar. Aliás, se eu tivesse a solução não estaria escrevendo em um blog, mas sim twittando da minha ilha no Pacífico.

Enfim, apesar de todos esses problemas que rondam minha cabeça, tenho que admitir que curto essa merda de Jornalismo. Não queria curtir tanto, mas curto. Desde que entrei no curso, sempre fui pé no chão o suficiente para não ter aquele pensamento utópico de querer mudar o mundo. Hoje só quero conseguir sobreviver. Ter um emprego em que não sinta um medo constante de ser demitido por culpa do mercado ruim. Trabalhar com o que gosto.

Jornalismo é aquilo que me dá tesão de fazer. Preparar uma entrevista, conversar com pessoas, editar, colocar na tela do computador, transformar aquilo em uma história digerível pelo público. Fazer alguma coisa boa, independente da área que eu atuar dentro do jornalismo. Espero que ele saia do coma profundo em que se encontra para eu poder fazer isso ou vou ter que adquirir habilidades médicas pra tentar ajudar ele a sobreviver. Acho que essa vai ser a solução.