A Coisa

Stephen King
Publicado em 1986
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Caralho, que livro foda!

Desculpe pelo palavrão logo no início do texto, mas não tem outra forma de começar a falar de um dos melhores livros de terror de todos os tempos. A Coisa é um livro do Stephen King do começo ao fim, com a construção de um terror psicológico pesado, uma boa caracterização dos personagens e um final decepcionante. Enfim, King na sua mais perfeita forma.

Como é de praxe, um pequeno resumo: em 1958, sete adolescentes aos poucos viram amigos inseparáveis. No meio da descoberta da amizade, se vêm envolvidos com a Coisa, um ser misterioso que provocou a morte de várias crianças na cidade. Anos mais tarde, os sete são chamados de volta à cidade natal porque o antigo perigo retornou e só eles podem enfrentá-lo novamente.

Mas, verdade seja dita, nada do que está escrito aí faz jus ao que está nas 892 páginas do livro. O maior mérito do King em A Coisa é a caracterização de cada um dos sete personagens principais (Bill Denbrough, Stanley Uris, Richie Tozier, Bem Hanscom, Eddie Kaspbrak, Beverly Rogan e Mike Hanlon), do “vilão” (Henry Bowers) e da própria Coisa.

I want to play a game

Os dois primeiros capítulos dão o tom do que virá pela frente, com duas mortes provocadas pela Coisa em momentos temporais diferentes. A primeira é a de George Denbrough, irmão de Bill, em 1957. A segunda é a de Adrian Mellon, em 1984. As duas dão início a uma série de assassinatos em Derry, cidade fictícia onde se passa a história.

Nesses capítulos passamos a conhecer melhor a Coisa – ou Parcimonioso, como é chamado (Pennywise, em inglês). Ela é a personificação do maior medo das pessoas e costuma acordar e atrair crianças para a morte a cada 27 anos. Seu disfarce mais comum é o de palhaço, pois consegue encantar suas vítimas oferecendo balões (“Elas flutuam… tudo aqui embaixo flutua”).

Tenha medo. Muito medo.

Só por isso dá para perceber que o King vai brincar com nossos medos mais irracionais, principalmente os que vêm da infância. É também pelos olhos de crianças que vemos a Coisa em suas diferentes formas. Cada um dos sete protagonistas, que formam o grupo dos Perdedores, encontrou aquele ser em algum momento, em formas diferentes para cada um. São justamente essas cenas de encontro as mais assustadoras, pois é quando o medo, até então psicológico, se materializa.

Esse clima é ampliado porque os encontros ocorrem em duas linhas temporais distintas e entrelaçadas, cada uma com sua função específica na história. A de 1958, com os Perdedores ainda jovens, e outra em 1985, com eles já adultos. Na parte das crianças vemos como a amizade dos sete surgiu, os problemas que passaram juntos e cada pequeno momento de alegria e tranquilidade que viveram, além dos instantes de total desespero.

Esse resgate ao passado ocupa a maior parte do livro, sendo essencial para entender como a Coisa age e como os sete trabalham em grupo. É na parte da infância que também somos apresentados a Henry Bowers, o valentão do colégio. Como os Perdedores são os poucos garotos que conseguem enfrentá-lo, seu objetivo é destruí-los da forma mais violenta possível. Essa obsessão é importante porque, no meio disso tudo, há a Coisa, que também quer destruir os meninos e passa a usar Henry a seu favor.

Eu sou ryca!

Na linha temporal futura, eles se reúnem novamente para tentar derrotar de vez a Coisa. Com eles já adultos, percebemos como a experiência vivida enquanto criança afetou cada um. Cada capítulo é conduzido por um dos personagens, o que ajuda a mostrar as personalidades e nos envolver com todos. Méritos para o King por ter trabalhado cada personagem de forma espetacular.

É nesses momentos decisivos, porém, que percebemos como as características de cada um se encaixam no grupo. Então todas aquelas páginas anteriores passam a fazer sentido, pois criaram personagens complexos e que tomam as atitudes que esperaríamos deles. Já conhecemos cada um quase como conhecemos nossos amigos.

Esses pontos positivos fazem com que a leitura seja prazerosa. Mas como não podia deixar de ser, é um livro do King. E ele não é muito conhecido por fazer finais brilhantes. O clímax das duas linhas temporais ocorre de forma simultânea, mas o desfecho não traz a emoção que o livro prometeu. Além disso, a resolução do último problema é tão banal que fica perdida no meio a tantas excelentes qualidades do livro. E nem vou falar da famosa cena de sexo porque aquilo ali não tem defesa, foi só excesso de drogas e a ausência de um editor.

Minha avaliação? Leia agora mesmo. Mas vá preparado porque são muitas páginas e é preciso gastar um bom tempo, mas vai valer a pena. Muito. É um King pra ninguém botar defeito.

A Coisa
Stephen King
Objetiva, 2001
892 páginas

*Todas as imagens são do filme It, que ainda não vi…